domingo, 12 de julho de 2015

O mundo esquecido (9)


Capítulo 9 - De volta a casa

Quando a luz voltou a iluminar o mundo à sua volta, Salvador demorou a perceber onde se encontrava. Desde que tinha sentido que se elevava no ar tinha perdido a noção de tudo, e as lembranças do que se teria passado até ao momento presente eram como uma folha em branco. Era como se tivessem sido apagadas com uma borracha. Piscou os olhos (a luz era mesmo muito forte) e apercebeu-se de duas coisas: que um raio de sol estava pousado na sua cara, vindo de uma janela com as cortinas abertas, e que estava num quarto, deitado numa cama coberta com uma colcha amarela bordada com estrelas azuis. Percebeu então que estava no seu quarto. Como teria ido lá parar? Quando tinha caído no buraco negro, estava na rua, junto ao muro do pomar do Senhor Joaquim, não estava? Salvador tinha imaginado que a saída do mundo esquecido seria a mesma, ou seja, o buraco. Não entendia. Sentou-se na cama. Viu que a sua mão estava firmemente fechada, e que escondia alguma coisa no seu interior. Abriu-a. Era uma pedra branca, parecida com um pequeno ovo. A pedra que o velho mágico lhe tinha oferecido! Ao seu lado, pousado em cima da colcha, estava um livro, Alice no País das Maravilhas. Pegou-lhe cuidadosamente e olhou a menina que estava desenhada na capa: Alice. Se havia alguém capaz de entender o que lhe tinha acontecido, era ela. Através da janela, Salvador olhou para o céu. Havia uma nuvem… Parecia mesmo um caranguejo com bigode. Não pôde deixar de rir.

Foi então que ouviu a voz da mãe:

- Salvador! Acorda! São horas de ires para a escola. Hoje é o primeiro dia de aulas. Não queres chegar atrasado, pois não? Espero que ontem não tenhas ficado a ler até tarde.


Salvador sorriu. A noite anterior tinha sido preenchida com muito mais do que leitura. Tinha feito uma viagem ao mundo esquecido, mas isso era algo que teria de guardar só para si. Ninguém acreditaria. Excepto Alice. Talvez um dia a viesse a encontrar, num dos mundos fantásticos que se escondem para lá de buracos inesperados.







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