Capítulo 9 - De volta
a casa
Quando a luz voltou a iluminar o mundo à sua volta, Salvador demorou a
perceber onde se encontrava. Desde que tinha sentido que se elevava no ar tinha
perdido a noção de tudo, e as lembranças do que se teria passado até ao momento
presente eram como uma folha em branco. Era como se tivessem sido apagadas com
uma borracha. Piscou os olhos (a luz era mesmo muito forte) e apercebeu-se de
duas coisas: que um raio de sol estava pousado na sua cara, vindo de uma janela
com as cortinas abertas, e que estava num quarto, deitado numa cama coberta com
uma colcha amarela bordada com estrelas azuis. Percebeu então que estava no seu
quarto. Como teria ido lá parar? Quando tinha caído no buraco negro, estava na
rua, junto ao muro do pomar do Senhor Joaquim, não estava? Salvador tinha
imaginado que a saída do mundo esquecido seria a mesma, ou seja, o buraco. Não
entendia. Sentou-se na cama. Viu que a sua mão estava firmemente fechada, e que
escondia alguma coisa no seu interior. Abriu-a. Era uma pedra branca, parecida
com um pequeno ovo. A pedra que o velho mágico lhe tinha oferecido! Ao seu
lado, pousado em cima da colcha, estava um livro, Alice no País das Maravilhas. Pegou-lhe cuidadosamente e olhou a
menina que estava desenhada na capa: Alice. Se havia alguém capaz de entender o
que lhe tinha acontecido, era ela. Através da janela, Salvador olhou para o
céu. Havia uma nuvem… Parecia mesmo um caranguejo com bigode. Não pôde deixar
de rir.
Foi então que ouviu a voz da mãe:
- Salvador! Acorda! São horas de ires para a escola. Hoje é o primeiro
dia de aulas. Não queres chegar atrasado, pois não? Espero que ontem não tenhas
ficado a ler até tarde.
Salvador sorriu. A noite anterior tinha sido preenchida com muito mais
do que leitura. Tinha feito uma viagem ao mundo esquecido, mas isso era algo
que teria de guardar só para si. Ninguém acreditaria. Excepto Alice. Talvez um
dia a viesse a encontrar, num dos mundos fantásticos que se escondem para lá de
buracos inesperados.
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