segunda-feira, 6 de julho de 2015

O mundo esquecido (2)


Capítulo 2 - No mundo esquecido


No instante em que tombou no buraco, Salvador fechou os olhos à espera de encontrar o fundo. Ao contrário do que seria de esperar, caía muito devagar, quase como se voasse. Enquanto atravessava a escuridão, imaginou que era um pássaro a voar dentro da noite, junto às estrelas e às nuvens adormecidas. Passou muito tempo e Salvador percebeu que já deveria ter aterrado no fundo do buraco. Foi nessa altura que sentiu que estava a cair mais devagar, e mais, e mais ainda, até que parou. A viagem tinha chegado ao fim e Salvador aterrou finalmente, ficando sentado em cima do que lhe pareceu ser um tapete macio. Havia agora uma leve claridade, como quando a noite acaba e o sol começa a iluminar o dia. Olhou à sua volta. Encontrava-se numa gruta, com o teto tão baixo que Salvador não conseguia levantar-se e pôr-se de pé, e o que lhe tinha parecido um tapete era afinal erva muito fina. Onde estava? Que distância teria percorrido? O buraco era mesmo profundo! Tentou encontrar uma saída e avançou de gatas até um dos extremos da gruta. Então avistou uma pequena luz, que aumentava à medida que ele se aproximava, e que parecia vir de uma porta escavada na parede de pedra. Salvador encaminhou-se rapidamente para lá.

A porta tinha exatamente a altura de Salvador, não era nem maior nem mais pequena, e parecia mesmo ter sido feita de propósito para que ele a atravessasse. Não hesitou: ergueu-se e saiu da gruta. Do lado de fora o sol brilhava num céu azul muito claro, aquecendo o ar como se se estivesse em pleno verão. E não havia nuvens, nem uma para amostra. Salvador achou estranho esse facto, pois antes de cair no buraco reparara que o céu tinha nuvens cinzentas (lembrou-se daquela que lhe tinha parecido um dragão). Deu dois ou três passos e olhou a paisagem que o cercava. Diante dos seus olhos estendia-se um campo de flores a perder de vista, de todas as cores, formas e alturas. Era como se um jardineiro louco tivesse plantado no mesmo local todas as flores que existiam no mundo. Salvador estava espantado: nunca tinha visto um campo como aquele.




Cada vez mais Salvador se convencia de que tinha ido parar a um mundo diferente daquele que conhecia. Pensou na avó, no pai, na mãe. Deviam estar preocupados por ele ainda não ter regressado a casa. Quanto tempo se teria passado desde que caíra no buraco? Salvador achava que se tinham passado muitas horas, mas não tinha a certeza. Resolveu que tinha de voltar a casa, o mais depressa possível, mas não sabia o caminho de regresso. Pensou então que o melhor seria caminhar até encontrar alguém que o ajudasse. Como não existiam caminhos traçados, teria de atravessar o imenso mar de flores.

Quando Salvador se preparava para entrar no campo florido, ouviu uma voz.
- Se queres chegar ao outro lado, tens de seguir as flores brancas.
Salvador parou, olhou à sua volta mas não viu ninguém. Encolheu os ombros e continuou a andar.
- Queres parar um bocadinho e ouvir o que tenho para te dizer!?
Não havia dúvidas, alguém falava com ele. Perguntou:
- Quem está aí?
De entre as flores mais altas saiu então a maior borboleta que Salvador já tinha visto. As suas asas eram brancas e tinha olhos, e boca, e as suas faces eram rosadas. A borboleta voou rapidamente para junto dele e pousou na sua mão.
- Já te disse e repito: tens de seguir as flores brancas. Se não o fizeres ficas prisioneiro para sempre no campo de flores.
Salvador estava pasmado. Olhou para o imenso mar de flores, depois voltou a olhar para a borboleta.
 - As cores estão todas misturadas!
- Claro que sim, mas todos sabem que é preciso primeiro colher uma flor branca. Ela mostrar-te-á o caminho. Simples, não?
- Que sítio é este?
- Acabaste de chegar ao mundo esquecido.
- Mundo esquecido? Espera…

Mas ela já tinha voado, desaparecendo por entre as flores. Salvador não sabia o que pensar. Tinha descido por um buraco, encontrado um campo florido numa terra que não conhecia e falado com uma borboleta de faces rosadas. Não sabendo mais o que fazer, decidiu seguir o conselho da borboleta. Aproximou-se da primeira flor branca que encontrou, colheu-a e esperou que acontecesse alguma coisa.





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