sábado, 5 de março de 2016

O pássaro azul (1)



Capítulo 1 - As palavras do vento


Maria gostava de escutar o vento. Dentro do vento, existiam palavras. E dentro das palavras, escondiam-se segredos. Acreditava que se fechasse os olhos e ficasse sentada, muito quieta, entendia essas palavras.
A avó de Maria também escutava a voz do vento. Vivia, com o gato branco, numa casa pequenina, de forma quase, quase quadrada, no meio de um campo de papoilas, quase, quase sem fim. Nas tardes de Verão, ficavam as duas sentadas à sombra de uma árvore, de olhos fechados, a ouvir os segredos que o vento lhes contava. Depois, a avó falava a Maria de terras distantes, onde o vento também existia, e na grande viagem que ele fazia até chegar junto delas. Era por isso que o vento sabia tantas histórias, dizia a avó. Maria achava que era no Verão que melhor se ouviam as palavras que o vento dizia. No Inverno, às vezes a sua voz era tão assustadora, e as palavras soavam tão fortes, que ela se encolhia dentro de casa e simplesmente se recusava a escutá-lo.
Depois, pouco a pouco, a avó foi-se tornando uma pessoa triste. Maria não sabia porquê. Ficava sentada junto à janela, em silêncio, a olhar o céu. O gato observava a avó e miava baixinho, como se também ele estivesse triste. Era branco como a neve, e quando estava deitado no colo da avó, parecia que tinham caído flocos de neve junto da tristeza dela, embora lá fora fosse Verão e o sol brilhasse sobre o campo de papoilas.
O que Maria mais queria era que a tristeza da avó terminasse. Lembrava-se do seu sorriso, das histórias que lhe contava (às vezes, trazidas pelo vento), das flores que apanhavam no campo quando chegava a Primavera.

Então, naquela tarde de Verão, uma brisa quente começou a falar baixinho. Pareceu a Maria que murmurava o seu nome. Saiu, sentou-se junto à porta de casa e fechou os olhos (para melhor escutar as palavras). Depois, de repente, sentiu que voava.




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