Capítulo 1 - As
palavras do vento
Maria gostava de escutar o vento. Dentro do vento,
existiam palavras. E dentro das palavras, escondiam-se segredos. Acreditava que
se fechasse os olhos e ficasse sentada, muito quieta, entendia essas palavras.
A avó de Maria também escutava a voz do vento. Vivia, com
o gato branco, numa casa pequenina, de forma quase, quase quadrada, no meio de
um campo de papoilas, quase, quase sem fim. Nas tardes de Verão, ficavam as
duas sentadas à sombra de uma árvore, de olhos fechados, a ouvir os segredos
que o vento lhes contava. Depois, a avó falava a Maria de terras distantes,
onde o vento também existia, e na grande viagem que ele fazia até chegar junto
delas. Era por isso que o vento sabia tantas histórias, dizia a avó. Maria
achava que era no Verão que melhor se ouviam as palavras que o vento dizia. No
Inverno, às vezes a sua voz era tão assustadora, e as palavras soavam tão
fortes, que ela se encolhia dentro de casa e simplesmente se recusava a
escutá-lo.
Depois, pouco a pouco, a avó foi-se tornando uma pessoa
triste. Maria não sabia porquê. Ficava sentada junto à janela, em silêncio, a
olhar o céu. O gato observava a avó e miava baixinho, como se também ele
estivesse triste. Era branco como a neve, e quando estava deitado no colo da
avó, parecia que tinham caído flocos de neve junto da tristeza dela, embora lá
fora fosse Verão e o sol brilhasse sobre o campo de papoilas.
O que Maria mais queria era que a tristeza da avó
terminasse. Lembrava-se do seu sorriso, das histórias que lhe contava (às
vezes, trazidas pelo vento), das flores que apanhavam no campo quando chegava a
Primavera.
Então, naquela tarde de Verão, uma brisa quente começou a
falar baixinho. Pareceu a Maria que murmurava o seu nome. Saiu, sentou-se junto
à porta de casa e fechou os olhos (para melhor escutar as palavras). Depois, de
repente, sentiu que voava.
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