quarta-feira, 9 de março de 2016

O pássaro azul (3)






Capítulo 3 - A coruja sábia


A árvore mais alta do bosque era também a mais larga que Maria já tinha visto. Quando se aproximou, reparou que havia uma porta desenhada no tronco, e que estava entreaberta. Empurrou-a com cuidado e espreitou para o interior do que parecia ser uma pequena sala. A primeira coisa que Maria viu foram as estantes que se alinhavam ao longo das paredes, onde estavam arrumados muitos óculos. Depois, viu a coruja sábia. Estava empoleirada numa das prateleiras da estante central e parecia pensativa enquanto a observava.
Antes de Maria dizer uma só palavra que fosse, a coruja sábia falou: disse-lhe que todos os óculos guardavam um poema. Acrescentou que ela deveria escolher aqueles cujas palavras lhe lembrassem a pessoa de quem mais gostasse. Aparentemente, a coruja sábia sabia a razão da sua ida ali (afinal, era sábia). Maria lembrou-se do sorriso triste da avó, das histórias que ela lhe contava. Depois, experimentou óculos de vários tamanhos e feitios: redondos, quadrados, com a forma de estrela ou de flor (havia mesmo uns que pareciam pequenas nuvens carregadas de chuva). Até que reparou nuns óculos muito pequenos, redondos, com as lentes azuis. Assim que os colocou, esperou ouvir o poema. Mas não havia palavras. Ouviu então o sopro da brisa de uma tarde de Verão, e dentro da brisa existiam as tardes inteiras no campo de papoilas quase sem fim, e havia o sorriso da avó misturado com a luz do sol. Maria perguntou:
“Os poemas são feitos de palavras?”
“Às vezes, os poemas são memórias. Depois, podem ser palavras.”
“Como os segredos que diz o vento?”
“Talvez. Esses segredos que o vento diz, como são?”
“O vento canta, e dentro da música existem as palavras, que guardam histórias. São palavras que voam, como se tivessem asas e fossem pássaros. Eu escuto-as, e é como se voasse também. Achas que poderão ser poemas?”
“São, sem dúvida, poemas.”

Nesse momento, Maria teve a certeza de que aqueles eram os óculos certos para si. Agradeceu à coruja sábia e caminhou em direção à orla do bosque, onde vivia o pássaro azul. Na sua memória, falavam baixinho os segredos do vento.



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