domingo, 6 de março de 2016

O pássaro azul (2)





Capítulo 2 - A tartaruga do lago


No instante em que abriu os olhos, Maria não reconheceu o sítio onde se encontrava. Estava sentada no centro de uma clareira, cercada por árvores nada parecidas às que conhecia: na mesma árvore havia folhas de várias cores, fazendo com que parecessem um enorme ramo de flores. Às vezes, as folhas agitavam-se, muito devagar, como se suspirassem. Podia ser por causa das palavras que o vento lhes dizia. Maria fechou os olhos, tentou escutá-lo também, mas era como se o vento estivesse adormecido. Talvez as árvores apenas recordassem essas palavras, e os segredos que elas guardavam.
Foi então que uma música, como aquela que os pássaros dizem, se fez ouvir dentro do silêncio. De repente, um bando de pássaros brancos atravessou o céu e pousou nos ramos das árvores. Pareceu a Maria que dentro da música havia palavras, como aquelas que trazia o vento. Aproximou-se de uma das árvores e foi então que avistou um pequeno lago, tão azul que parecia um bocadinho de mar. Caminhou até junto da margem e parou mesmo no sítio onde se encontrava uma tartaruga, que parecia olhá-la com atenção, através de uns óculos enormes. Maria pensou que ela devia ser muito velha, e nesse caso com certeza precisava de óculos (lembrou-se que a avó também usava óculos, para ler as letras mais pequeninas). Perguntou:
“Por que usas óculos?”
“Para ver o que é invisível.”
“Eu ouço as palavras que o vento diz, vejo as histórias que elas dizem.”
“Para ouvir o vento e ver as histórias, basta estar atento. Mas dentro do bosque, existe um pássaro azul, que apenas pode ser visto por quem usa os óculos que ensinam a ver.”
“Onde está o pássaro azul?”
“Vive na orla do bosque, onde as árvores cantam e os pássaros brancos dizem poemas. É um pássaro mágico, as suas lágrimas curam a tristeza.”
“A minha avó está triste. Achas que o pássaro azul pode curá-la?”
“Pode. Basta que toques numa das suas lágrimas e então ouvirás as palavras, que são um poema. Essas palavras irão curar a tristeza da tua avó. Mas tens de encontrá-lo, e para isso deves usar uns óculos como estes. Caso contrário, apenas verás pássaros brancos.”
“Por acaso não tens uns que me possas emprestar?”
“Apenas a coruja sábia te pode ajudar. Ela é a guardadora dos óculos. Vive do outro lado do lago, na árvore mais alta do bosque. Segue sempre junto à margem e depressa a encontrarás.”
A seguir, a tartaruga ficou em silêncio, como se tivesse adormecido. Em bicos de pés, Maria afastou-se e começou a seguir a margem do lago que parecia um pequeno mar.





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